Esse ano tivemos 5a. edição da Virada Cultural de São Paulo. Para quem não sabe do que estou falando, a Virada Cultural é um evento de cunho cultural e artístico onde diversas atrações se apresentam, em vários pontos espalhados por toda a cidade, durante 24 horas ininterruptas, iniciando no sábado às 18:00h e encerrando no domingo.
Só para dar uma idéia da dimensão deste evento foram cerca de 800 atrações e 4 milhões de pessoas, segundo a organização.
A Virada Cultural me permitiu unir meus dois blogs – o de música e o de foto – já que estive por lá, não apenas apreciando as apresentações, mas também registrando algumas delas.
Prédio da Prefeitura e o Viaduto do Chá
A minha maratona começou às 19:45h do sábado e terminou às 17:00h do domingo, com um pequeno intervalo de 4 horas de sono. Mas, ver a cidade de São Paulo, em especial o centro, à noite com toda aquela efervescência, e caminhar por suas ruas estreitas naquele horário, foi fantástico!
E ver também que a cidade consegue funcionar, salvo um ou outro probleminha, e atender a demanda de um evento desse porte, é muito bom. Quem já viu qualquer edição da Virada Cultural sabe do que estou falando. São muitas intervenções na estrutura da cidade para comportar a diversidade de shows, apresentações, performances e tribos.
Só para dar uma idéia, ao lado do Teatro Municipal, na praça da República/Anhangabaú/Praça do Patriarca tínhamos: apresentação de harpa, balé clássico, equilibrismo, música eletrônica, mpb e rock.
Teatro Municipal e palco utilizado pelo grupo Mass Ensemble
Muitas das apresentações tem também ligação com o ano da França no Brasil e, por isso, muitos dos artistas são franceses.
Eu havia preparado um roteiro, o qual obviamente, não consegui cumprir, mas consegui ver grandes atrações. E foram elas:
MASS ENSEMBLE – “Earth Harp”
O Mass Ensemble é um grupo internacional (não consegui saber de onde são exatamente) e que mesclam música e coreografias numa simbiose diferenciada, combinando elementos de música clássica, tribal, guitarras e baterias, além de “construirem” seus próprios instrumentos. E este é exatamente o propósito da apresentação “Earth Harp”.
Duo do Mass Ensemble em ação
Servindo-se do domo do Teatro Municipal como ponto de apoio para as cordas, foi instalada uma grande harpa na praça Ramos, onde teve a apresentação de 40 minutos de dois membros do grupo, mostrando um pequeno resumo da versatilidade artística do Mass Ensemble.
A versatilidade artística do grupo
A sonoridade intensa daquelas cordas gigantes só amplificaram a sutileza das belas melodias apresentadas. A apresentação ainda contou com uma performance de malabarismo com fogo. Andrea Brook encantou o público não apenas pelo seu talento musical
No site do grupo você encontra as músicas de sua discografia e vídeos de diversos espetáculos. Clique aqui e confira!
CIE CARABOSSE - “Installation de Feu”
A Cie Carabosse é um grupo performático francês apaixonado pelo fogo, como eles mesmos se descrevem no site oficial.
Essa paixão por fogo o levou a criar intervenções belíssimas em cidades pelo mundo afora e como a que foi apresentada no Jardim da Luz.
Mais que simplesmente iluminar lugares e monumentos com labaredas, “Installation de Feu” é um ritual. O grupo vai acendendo tocha por tocha (na verdade, pequenos vasos de cerâmica) e criando um clima de expectativa e tensão que explode em alegria e magia a cada peça acesa, encantando os espectadores.
O Jardim da Luz deve ser o parque menos visitado de São Paulo, mas é o mais charmoso, vide a união das suas esculturas com o lago e o prédio da Pinacoteca e da Estação da Luz com suas arquiteturas distintas e igualmente elegantes. Um cenário perfeito para tal intervenção, a começar pelo nome “Jardim da Luz”.
Prédio da Estação da Luz e seu relógio
“Installation de Feu” aguça uma nova percepção do nosso entorno. O calor das chamas nos conforta e nos assusta ao mesmo tempo. A coloração alaranjada e a sombra dos transeuntes nos leva a imagens únicas e distintas.
Caminhar pelas trilhas do parque, entre as árvores naquela ambientação, nos transporta para períodos remotos da nossa própria existência, reforçando o nosso eterno encantamento pelo fogo. E tudo isso, ao som dos músicos espalhados pelo parque, cada um com uma sonoridade peculiar, envolvente e viajante.
Detalhe do prédio da Pinacoteca sob o efeito da iluminação das chamas
Para quem já visitou o Jardim da Luz, vai ter uma pequena idéia do que foi essa instalação. Para quem ainda não o conhece, veja as fotos, memorize-as e vá confronta-las com o parque em seu “estado natural”.
Visite o site da Cie. Carabosse e veja fotos das outras intervenções da “Installation de Feu” e se encante!
Integrantes do grupo iniciando o ritual do fogo O globo de fogo na entrada do parque
Detalhes do Parque
Algumas esculturas e a iluminação especial
Os músicos que alegraram a “noite do fogo”:
A dupla de moda de viola
músicos franceses da Cie. Carobosse
detalhes do palco
o lago e a sua decoração especial
cada tubo desses tinha uma decoração diferente… os controladores da chamas…
instalação “primitiva” na gruta
instalação das camisetas…ou seriam “gasparzinhos”?
LES SOUFFLEUERS – Commandos Poétique - “La Confidence des Oiseaux de Passage”
“A humanidade se reproduz pela palavra falada. Les Souffleurs - uma tentativa de desacelerar o mundo”.
Com essa frase o grupo francês Les Souffleurs, criado por Olivier Comte em 2001, abre a sua página na web e ela resume perfeitamente a proposta desta intervenção.
Imaginem o seguinte ambiente. A Catedral da Sé, à meia-noite. Vazia, sem banco algum. Quase que numa escuridão absoluta. E como trilha sonora, sons de água gotejando, de brisa e folhas.
Nesse cenário, cerca de 15 pedestais, com cerca de 5 metros de altura, nos quais pessoas vestidas totalmente de preto, movimentam longos tubos decorados com neon azul.
A primeira impressão é de estranhamento “o que é isso?”. Depois, o encantamento. O “bailado” daqueles tubos proporciona um belíssimo efeito, mas de repente, aleatoriamente, o tubo é entregue, suavemente nas mãos de algum espectador, e através dele, este ouve o sussurro de uma poesia.
Ao término do “comando poético” privé, o tubo volta a ser movimentado no ar, à procura de outras mãos e ouvidos (vejam o vídeo apresentando essa intervenção).
Toda essa ambientação nos remete, naturalmente, à quietude, à serenidade, à tentativa de desacelerar o mundo. Entretanto, ainda embuídos da nossa “velocidade metropolitana”, ficamos inquietos, e alguns até desistem, por ter de esperar a vez de ouvir a poesia sussurrada somente para o escolhido.
“La Confidence des Oiseaux de Passage” ou “A Confidência dos Pássaros Viajantes” é o tema desta intervenção poética, sombria, desacelerada, a qual não apenas é uma apresentação, sonora e visualmente bela, mas uma constatação do desequilíbrio do homem moderno por não ter “mais tempo livre” para simplesmente apreciar com calma.
os atores….
o efeito visual… a performance
VIOLETA DE OUTONO - “Violeta de Outono”
A primeira vez em que vi uma banda de rock tocar em um “teatro municipal” foi em 1986, no vídeo “Nocturne”, da fantástica Siouxsie and The Banshees tocando no Royal Albert Hall, em Londres.
Desta vez, a Virada Cultural me proporcionou a oportunidade de ver isso acontecer aqui mesmo.
O Teatro Municipal de São Paulo foi o palco para diversas apresentações durante toda a virada, onde artistas apresentaram, na íntegra, um álbum importante de sua carreira.
Não poderia deixar de ver, naquele local, Violeta de Outono.
Para os não familiarizados, Violeta de Outono é um dos ícones da maravilhosa cena pop-rock brasileira dos anos 80 (na qual surgiram Legião Urbana, Capital Inicial e nomes mais alternativos como Fellini e Vzyadoq Moe). Aliás, ouso dizer que de lá pra cá, pouquíssimas bandas de valor surgiram.
Violeta de Outono trouxe, de um lado, a essência das bandas daquela época, ou seja, uma carga poética belíssima e reflexiva. Entretanto, por outro lado, introduziu na sua musicalidade, um toque de “progressivo e psicodelia” percebido, principalmente, em seus solos de guitarra. Além de momentos “sombrios” típicos daquele movimento.
O Violeta de Outono, entrou no palco do Teatro Municipal às 6 da manhã e apresentou seu primeiro álbum, homônimo, que traz clássicos como Declínio de Maio e Outono.
o playlist
A atmosfera da banda e sua sonoridade encorpada ficou ainda mais evidente ao vivo.
Definitivamente, valeu a pena esperar duas horas na fila para conseguir o ingresso.
Vejam o vídeo de Declínio de Maio gravado em 1997 ou acessem Violeta de Outono Official Site
PONTO DE CULTURA SEMENTE – Cabaré Aéreo
Finalizando a maratona da Virada Cultural, eis que fui ver esse grupo brasileiro (não sei exatamente de onde são), mas é um grupo de artistas circenses, mesclando mímicas, interação com o público, música e acrobacias aéreas.
O nome do espetáculo me chamou atenção, pois imaginei que haveria uma “dose” de ousadia nas apresentações aéreas. Infelizmente, não foi o que aconteceu. Por outro lado, o momento “palhaçada” da apresentação foi muito bom, divertindo tanto adultos quanto crianças.
Por se tratar de um espetáculo voltado ao público infantil, sem dúvida, atendeu às expectativas gerais.
de um lado, de outro, e …. com a ajuda da platéia